Serra Grande (PB) é um município pequeno – de apenas 3.082 habitantes – a 456 quilômetros da capital paraibana João Pessoa e tem ao menos 20% da população em extrema pobreza. Sem médicos para fazer a atenção básica, a chegada do profissional cubano do programa Mais Médicos transformou a saúde local. Junto com a equipe de Saúde da Família, Dr. Miguel Toledo realizou três importantes ações: fez um rastreamento populacional; criou um modelo para nenhuma mulher com gravidez de risco ficar desassistida na hora do parto; e ajustou os pedidos de remédios de acordo com a necessidade da população.
“Hoje posso dizer que existe atenção primária em Serra Grande e que antes não existia”, assegura o secretario municipal de saúde, Vicente Cavalcante da Silva. O secretario explica que os médicos nunca tinham tempo para fazer a atenção básica, ir atrás dos pacientes e fazer um acompanhamento permanente, pois o tempo era somente para o atendimento ambulatorial. “Agora fazem palestras e trabalham a educação em saúde, coisa que não existia”, completa.
A agricultora aposentada Maria Pereira de Azevedo, de 71 anos, foi uma das beneficiadas com a chegada do médico e o trabalho recente da atenção básica. Há 33 anos, Maria desenvolveu feridas no pé que sumiam e depois reapareciam. A última tem sete anos que está aberta, formando uma úlcera. Ela passou por muitos lugares procurando tratamento, até que o Dr. Miguel pediu que ficasse um tempo na cidade para ter a ferida tratada, pois sozinha na zona rural não conseguia tratá-la adequadamente.
Rastreamento populacional - Ao saber que a maior causa de morte na população de Serra Grande era o infarto e o AVC, o Dr. Miguel verificou nos registros que apenas 11,6% da população estava com hipertensão. Como esse número é abaixo do apontado pelos estudos e pesquisas, ele desconfiou e saiu a campo com os agentes comunitários de saúde para diagnosticar quem estava com pressão alta. O rastreamento conseguiu identificar 9% a mais de hipertensos, o que ampliou para cerca de 20% o número de hipertensos no município.
“Isso melhora muito a saúde dessas pessoas, pois com o diagnóstico a pessoa terá um acompanhamento e o tratamento oportuno. Isso evita que ela piore e, consequentemente, terá uma vida mais longa. Podemos tratar os hipertensos, melhorando muito a qualidade de vida deles”, disse Dr. Miguel. A equipe de atenção básica também identificou diabéticos e outros doentes crônicos que precisam de acompanhamento.
Partograma – Para que nenhuma gestante em gravidez de risco ficasse sem leito na maternidade no dia do parto, o médico cubano mobilizou o gestor do município, que articulou com os gestores da saúde da região e até gestores estaduais para criar o “Partograma”. Eles mapearam as mulheres que terão filho em determinado mês e identificam as com gestação de risco.
A partir desse mapeamento, buscam-se vagas nas maternidades da região ou até fora dela. “Temos todas as grávidas monitoradas. Teve uma que chegou ao final da gestação com diabetes e consegui uma vaga em João Pessoa graças a toda essa parceria e a vontade dos gestores de atenção básica da Paraíba, e os apoiadores do Ministério da Saúde”, confirma o médico Miguel Toledo.
Com diabetes, anemia e sobrepeso, Damiana Alves Araújo, 34 anos, já sofreu um aborto e perdeu o bebê. Com a chegada do Dr. Miguel, ela faz um acompanhamento semanal no posto de saúde para medir a glicose. “Agora me sinto muito confiante porque se eu sentir alguma coisa posso ir lá e eles passam o remédio e me ajudam”, narra Damiana.
Reformulação dos medicamentos essenciais – Ao perceber que tinham remédios que não eram usados e faltavam outros que a população precisava, a equipe de saúde, com a liderança do Dr. Miguel, usou o cadastro que tinham feito no rastreamento da população e identificaram quantos e quais os remédios mais necessários.
Isso possibilitou que a licitação da compra desses medicamentos fosse feita de acordo com essa necessidade. “Não tínhamos colírios, por exemplo. E como a região é muito seca, muitos tinham problemas nos olhos ou respiratórios por causa do clima. E agora nós temos os medicamentos para tratar esses problemas”, explica o médico cubano.
Lucas Pordeus Leon / Blog da Saúde
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