Sentado tranquilamente na calçada de casa, na Rua Marta Batista de Moura, centro de Itaporanga, Pedro Alves de Queiroz (foto) canta e assovia as músicas que embalaram seu tempo de mocidade.
São canções antigas, tão velhas que as novas gerações desconhecem-nas, como também não sabem que por trás daquele idoso de aparência cândida há uma impressionante história de dificuldades e superação.
“Vou embora para nunca mais voltar”, diz trecho da letra de uma das músicas cantadas por ele, mas diferentemente do que diz a canção, Pedro sempre regressou.
Em 1951, subiu em um pau de arara para uma viagem longa e penosa: 17 dias sobre o banco duro de um caminhão enfrentando estradas de chão batido e a fome, mas chegou lá: foi colher algodão em um lugar conhecido como Paulista Nova, interior de São Paulo. Os sertanejos desembarcavam aos montes na cidade: já eram aguardados e logo levados para as grandes fazendas. “Eram escolhidos pelos fazendeiros como animais”, comenta, ao se queixar também da viagem: “não é brincadeira passar 17 dias rodando em um caminhão só em estrada de terra”.
Um ano depois, regressou a Itaporanga, botou um roçado, e, mais uma vez, perdeu a lavoura pela estiagem. Novamente voltou a São Paulo pela necessidade, desta vez levando a esposa e os filhos pequenos. Foi mais uma temporada no interior paulista.
Antes das duas idas a São Paulo, já havia feito uma viagem para Jurema, no Pernambuco, onde tinham parentes: foi na primeira metade da década de 40. Ainda era adolescente e acompanhou os pais fugindo da seca. Os retirantes enfrentaram centenas de quilômetros a pé, mas sobreviveram.
A fuga da seca também o levou a outro destino: no final da década de 50, migrou com a família à cidade de Irecê, na Bahia, para trabalhar na lavoura do feijão. Foi mais uma retirada difícil, mas necessária pelas graves dificuldades em Itaporanga.
E se não bastasse tanto sofrimento, dois fatos terríveis deixaram marcas ainda mais profundas em sua vida: perdeu a primeira esposa, morta durante um parto, e viu o próprio filho ser assassinado, quando trabalhava em uma propriedade na zona rural de Boa Ventura, por criminosos intencionados a roubar. Ele também foi esfaqueado, mas sobreviveu. Há três anos, perdeu um segundo filho, este vítima de problema cardíaco.
A superação – Alegre e falante, Pedro conseguiu superar todos os traumas que a vida lhe reservou: hoje aos 83 anos e casado com a dona de casa Iracy José de Sousa, mulher também guerreira, vive da aposentadoria rural e de uma ajuda financeira que um dos seus três filhos manda de Brasília. Sempre bem-humorado, conta sem complexo os momentos difícil que viveu: são histórias da vida de um sobrevivente.
Fonte: Folha do Vali
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