O município de Itaíba fica em uma bacia leiteira do agreste de
Pernambuco. Essa era uma das áreas mais prósperas do Estado, mas a seca
atingiu duramente a região. No local, havia 2,4 milhões de bois e vacas.
Mas o rebanho ficou reduzido à metade. A produção de leite e a
fabricação de queijo também despencaram. Uma cooperativa da região
processava 280 mil litros de leite por dia. Hoje, o lugar recebe 80 mil
litros.
Metade das vacas leiteiras do criador José Gomes morreu. Na
propriedade, restaram 16 animais. O leite que ele leva para a
cooperativa mal dá para cobrir as despesas. “Eu acho que vale a pena
porque não tem outra solução, não tem emprego, não tem nada”, diz
No desespero da seca, a saída que muitos agricultores encontraram foi
levar o rebanho para os Estados do Maranhão e do Pará. Mais de 20 mil
animais foram retirados às pressas de Itaíba. Eles seriam retornariam à
cidade assim que chovesse, mas na região são três anos seguidos de
chuvas abaixo da média e de currais vazios.
O criador José Lopes, que mandou 18 vacas para o Pará, ficou com um touro e um bezerro na esperança de recuperar o rebanho. A realidade foi mais dura do esperado. Ele teve muito prejuízo e precisou vender até o reprodutor. “Vendi para me alimentar. O gado que foi embora não dá mais pra trazer não”, lamenta.
As fontes de água estão cada vez mais escassas. O açude Sousa, por
exemplo, um dos maiores do sertão central cearense, abastecia o
município de Canindé e era usado para irrigação. Agora, com menos de 1%
da capacidade, serve apenas para matar a sede de uns poucos animais.
De uma forma geral, a situação dos açudes é crítica em quase todo o
Nordeste. Sergipe é o único Estado com água nos reservatórios acima da
metade da capacidade. O volume é de 60%. No Maranhão, é de 48%. Alagoas,
Rio Grande do Norte e Piauí estão com 40% da capacidade. Na Bahia,
Paraíba e Ceará, registra 30%. A pior situação é a de Pernambuco, que
está com apenas 25% da capacidade de armazenamento de água.
A família da agricultora Lúcia Souza da Silva, do município de Canindé,
ainda não tem cisterna para armazenar água. Por isso, nem o carro-pipa
passa pelo lugar. As cisternas de polietileno, que chegaram em junho,
ainda não foram instaladas.
A única água disponível chega no lombo dos jumentos em uma viagem
cansativa, de dez quilômetros, feita todos os dias. O líquido amarelado
fica armazenado em potes. Aos 76 anos, a aposentada Maria Lindalva dos
Santos utiliza essa água inclusive para beber e cozinhar.
A seca deixou 1.332 municípios nordestinos em situação de emergência. O número equivale a 74% da região.
g1.globo
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